O papel da pecuária na luta contra a desertificação

A criação de animais tem sido apontada como uma das principais causas para a desertificação, mas se realizada da forma correta pode ser a solução para reverter esta problemática.

Através da criação de protocolos que respeitam e imitam as interações íntimas entre a microbiologia do solo, a produtividade das plantas, o comportamento dos animais e o sustento das populações e tendo sempre em conta o contexto social, laboral, económico e territorial de cada situação produtiva é possível criar uma harmonia simbiótica entre pecuária e natureza, promovendo a proliferação de plantas.

O maneio holístico é o conceito por trás desta ideia que promove a gestão do território de pastoreio e que imita os percursos ancestrais das grandes manadas de herbívoros. Desta forma é possível ter mais produtividade vegetal (mais pasto de melhor qualidade e durante mais tempo), maiores rendimentos por parte dos animais (melhor e mais carne e leite), menos parasitas e doenças e ainda enterrar carbono no solo, revertendo assim as alterações climáticas.

O pastoreio holístico e planeado pode regenerar a terra aumentando a cobertura do solo, a infiltração de água, a biodiversidade, a produtividade e o carbono retido.

Períodos de recuperação, duração do período de pastoreio e densidade animal devem ser definidos com precisão pelo gestor pecuário, pois a diferença entre ser regenerativo ou destrutivo depende das decisões tomadas e da solidez da sua base científica e técnica.

Os cascos dos animais podem e devem funcionar como ferramentas de arar a terra, uma vez que a sua passagem quebra o chão outrora endurecido, o que fomenta a absorção da água da chuva e a retenção de carbono no solo. A compactação temporária também facilita o contacto entre as sementes e a terra, o que estimula a germinação e resulta em pastos verdejantes.

No fundo, é devolver à natureza aquilo que lhe pertence, equilibrando a balança entre as explorações agrícolas, a sua pegada ecológica e a mãe natureza.