O que é o bem-estar animal – Definição da World Organisation for Animal Health
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A bomba
Já se tornou um chavão: a carne é responsável por mais emissões de gases com efeito de estufa do que todo o setor dos transportes. Não surpreende, por isso, que haja cada vez mais gente a apelar a que sejamos todos vegetarianos ou veganos, ou mesmo à implementação de impostos sobre a carne, para diminuir o seu consumo. É uma convicção, porém, que parte de uma premissa errada: a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) publicou, em 2006, o famoso estudo que concluía que as emissões do gado eram superiores às dos transportes – um estudo com graves erros metodológicos. Nos últimos anos, têm-se sucedido análises com resultados díspares sobre o peso da produção de carne nas emissões globais de dióxido de carbono, mas a mensagem inicial da FAO é a que continua a ser mais citada.
Alhos e bugalhos
A comparação da FAO era falaciosa: para o gado, tudo foi contabilizado, incluindo a desflorestação para criar pastos, a produção de fertilizante e até o transporte de carne, ovos e leite (a que se somam as emissões diretas propriamente ditas – gases dos animais); no caso dos transportes, apenas se levou em conta as emissões diretas dos escapes, deixando de fora o custo ambiental da mineração de matéria-prima, da produção do material, da energia gasta pela indústria automóvel, da construção e da manutenção de estradas e outras infraestruturas. Além disso, se toda a gente se tornasse vegana, seria também necessário desflorestar para acomodar o aumento da procura de produtos agrícolas – que, a propósito, teriam de ser transportados. O principal autor do estudo, Henning Steinfeld, já fez mea culpa, admitindo que a comparação não é válida e não devia ter sido publicada naqueles termos, e prefere agora comparar as emissões diretas: 14% dos transportes, 5% do gado.
Pastagem vs cultivo
Poderia pensar-se que o que hoje é pasto pode amanhã ser convertido em cultivo. Mas a simples substituição de pastagens por agricultura não é… simples: segundo a própria FAO, 70% de toda a área hoje usada pelo setor agrícola é terra demasiado pobre ou inacessível para ser mais do que pasto, onde só crescem ervas indigestas para os humanos. Por outro lado, e só nos EUA, o gado consome anualmente perto de um milhão de toneladas de desperdícios da agricultura – lixo que é literalmente transformado em proteína. Sem vacas, cabras e ovelhas para comer caules, folhas e outros restos de cereais, por exemplo, esses desperdícios deixariam de ser uma mais-valia e tornar-se-iam um problema ambiental.
Estudos para todos os paladares
É muito difícil calcular as emissões diretas e indiretas da indústria de carne e derivados. Os resultados são tão opostos que se torna impossível arriscar sequer uma média. Por exemplo, as estimativas de um economista do think tank americano Worldwatch Institute apontam para 51% das emissões; já a Agência de Proteção Ambiental dos EUA atribui-lhe apenas 3,9%. Uma meta-análise de estudos publicados em revistas científicas, e com revisão de pares, conclui que uma pessoa (do mundo ocidental) que não coma carne diminui as suas emissões em 4,3 por cento.
O efeito de compensação
Uma potencial diminuição de emissões superior a 4% não é, apesar de tudo, de negligenciar. Mas ainda há que descontar o chamado “efeito de compensação”: uma dieta vegetariana é cerca de 10% mais barata, a que leva a uma poupança de 2% dos rendimentos; ora, segundo a literatura científica, pelo menos metade desse valor será gasto noutros produtos ou serviços, que também têm a sua pegada ecológica. Contas feitas, um vegetariano emitirá menos 2% de gases com efeito de estufa.
Não há vacas, não há comida bio
Boa parte dos proponentes da dieta vegana/vegetariana por razões ambientais é igualmente defensora da alimentação biológica. Mas um putativo fim da pecuária cria um enorme problema para a agricultura bio. O estrume dos animais é fundamental para o setor, que não pode usar fertilizantes sintéticos. Sem pecuária, não há produção biológica.
Notícia originalmente publicada na revista A Nossa Prima